Garoto, se toca!



                Ei, moço! Já disse que te amo hoje? O que? Não? – Risada sem graça – Não, né? Que bom!
                Quantas não foram as vezes que um “eu te amo” saiu da minha boca e, em troca, tudo o que recebi foi um silêncio constrangedor. Ei, ei, ei tudo bem! Não tô aqui falando de reciprocidade; até mesmo porque, hoje em dia, essa coisa que as pessoas chamam de “reciprocidade” não passa mesmo é de puro egoísmo, mas...
                Ai, garoto, se toca! Você na real, nem é tudo isso que se acha. Tudo bem, eu admito que amo esses teus olhinhos meio fechados, esse teu sorriso aberto e cheio de dentes, esse teu jeito de “tô nem aí (mas me ame, por favor?)”. E eu amo mesmo, mas você não vale o amor que pisa. O que? Não é esse o ditado? Tens certeza? Porque, olha...
                Moço, você é lindo, é sim. Lindo, do jeitinho que é. Da cabeça ao pé: olhos, boca, nariz, maçãs do rosto, tanquinho, cabelinho da moda, etc., etc. Até teu cheiro é delicioso! Tu és o que eu costumo chamar de “bonito demais pro próprio bem”. Posso dizer até que és aquela rara combinação de cérebro e uma boa genética, mas... Me responde uma coisa? De que te vale tudo isso se no final das contas, o que mais conta em ti é tão assustador quanto os monstros que trazemos em nossos armários? De que te vale ser tudo isso se, no final, tua alma é tão podre quanto se tivesse sido enterrada num pântano? Me diz, de que te vale ter essa aparência de anjo, se o teu coração é um demônio? Mas, é aquela coisa, mais vale mil contatinhos no celular que ficar “preso” em alguém, né?
                Arrogância, deboche, falsidade, prepotência, orgulho, mentiras, manipulações...
                Entrei nessa sem pedir nada em troca, e da mesma forma vou “me puxando”. Não te peço de volta os presentes, afinal, são presentes, né? Não quero voltar atrás e recuperar o tempo perdido, afinal, foi um tempo bem aproveitado e, mesmo que no final eu tenha caído em mim e percebido que tudo o que fazias era brincar com os sentimentos alheios – e não só os meus –, me valeu o aprendizado. Porque já dizia o ditado e a querida Kelly Clarkson: “o que não te mata, te fortalece” – ou algo assim.
                Bom, depois de pular de paraquedas sem sequer estar usando um, o que me resta é juntar os cacos e me reerguer. Mas, se eu pudesse te dar um único conselho antes de ir seria: garoto, se toca! Pessoas não são brinquedos e o mundo não gira em torno do teu umbigo!