Esse é um texto sobre janelas, folhas em um livro e saudade




                Quando aquele dia nasceu eu estava deitado, olhando o céu clarear aos poucos quando de repente fui tomado por um peso estranho no peito, uma nostalgia, uma sensação de que há muito tempo faltava alguma coisa aqui em mim.
                Avistei os prédios lá fora e lembrei dos teus dedos entrelaçados com os meus sobre o meu peito, da tua cabeça no meu ombro, da sensação gostosa de sentir a tua respiração no meu pescoço... Ai, a saudade!
                Lembrei dos dias em que ao invés de dormir – ou nos agarrar, como qualquer outro casal –, nós amanhecíamos, assim, juntinhos; você lutando contra o sono, eu dizendo que “tudo bem, pode dormir” e você teimando, dizendo que não, simplesmente porque sempre soube que eu não conseguia – e ainda não consigo, pra falar a verdade – dormir fora de casa. Por isso, nós costumávamos passar as noites em claro, olhando pela janela do teu quarto as estrelas no céu até o amanhecer, conversando trivialidades.
                Ah, saudade!
                Lembrei também daquele finzinho de tarde, saindo do colégio, você pegando uma folha de árvore que havia a poucos segundos tocado o meu rosto, trazida pelo vento. Você me deu um beijo, colocou ela entre as nossas mãos e disse que "nunca tinha me dado nada". Eu ri, te bati e xinguei, mas... Sabe, eu guardo aquela folha até hoje, dentro de um dos meus livros favoritos!

                Quando aquele dia nasceu eu estava deitado, vendo o céu clarear pouco a pouco pela janela; mas teus dedos não estavam nos meus, tua cabeça não estava no meu ombro e tua respiração não provocava cócegas no meu pescoço.
                Ai, a saudade! Ela demorou pra voltar, mas, quando voltou, ela veio tal qual uma enchente e me fez transbordar os olhos... Transbordar... os olhos...