Platônico


                Teus olhos, teus adoráveis olhos, me olharam por trás daqueles óculos quadrados sem realmente me ver....
                O cabelo arrumado com gel, o sorriso largo e sem medos, a barba por fazer, os braços cruzados, a conversa descontraída, o brilho dos teus olhos – ou seriam dos teus óculos? Cada detalhe teu, cada mínimo detalhe teu fotografado pelos meus olhos e gravado nos meus pensamentos em um único segundo. Um único e interminável segundo.
                A mão na cintura, as pernas cruzadas, o rosto corando, o riso sem jeito, as mãos nos bolsos, os lábios avermelhados, a gargalhada gostosa... E aquele segundo se transformou em minutos.
                O falar com as mãos, o jeitão perdido, o ajeitar a camisa, o bagunçar seguido do arrumar o cabelo, as covinhas ao rir...
                E numa fração de segundos, você se foi.
                Talvez eu nunca saiba quem você realmente é por trás desses teus óculos quadrados e das covinhas encantadoras ao rir, talvez teus olhos nunca me vejam de verdade; e talvez eu nem queira de fato, mas o que seria de mim sem um pouco desse platonismo apaixonado, não é mesmo?