Camping #7



Términos e idas sem volta
O ano parecia ir de mal a pior a cada segundo que passava depois daquele beijo. Aquele intenso e inesperado beijo!
Alice e eu meio que paramos de nos falar poucos meses antes do meu aniversário e continuamos assim durante mais ou menos umas 3 semanas. Ela não chegou a me dizer que estava chateada comigo, mas eu sabia que estava. O grande mistério para mim era saber o porquê.
Quanto a Ian, bem, continuamos naquela coisa de ida e volta na nossa amizade. Era estranho falar com ele depois do ocorrido na praça, então eu meio que me sentia aliviado quando estávamos sem nos falar.
- Zac... – Ian me disse em um dia que estávamos no meu quarto depois da aula. Estávamos deitados na minha cama, olhando para o teto cheio de pontinhos fluorescentes, contando as já contadas estrelas que estavam ali desde os meus 10 anos (sim, eu sei que pode ser infantil, mas eu gosto!) – Alice e eu... Bem – ele suspirou – a gente terminou.
- Terminaram? Como assim terminaram?
- Terminando, oras! – ele respondeu rindo.
- Vocês vão voltar – respondi, lhe dando uma cotovelada. – Como sempre.
- Não. Dessa vez foi definitivo.
- Por que?
- Ah, a gente conversou. – ele respondeu. – Sabe, já tinha um bom tempo que não vinha dando certo. A gente brigava por besteira e, quando eu contei sobre o beijo...
- Beijo?! – me sentei na cama com um impulso. – Q-que beijo?!
- Ora, Zac – ele exclamou. Depois de uns segundos de silêncio, ele acrescentou num sussurro: - O nosso beijo!
Senti meu rosto corar, o sangue queimando em minhas bochechas. Então era por isso que Alice havia parado de falar comigo? Céus!
- Zac, o que foi? – ele se sentou também e pegou a minha mão.
Levantei e fui até a janela do quarto. Olhei para o céu, já começava a escurecer. Ian se aproximou de mim e me tocou o ombro. Céus de novo!
- Então – comecei com a voz tremula. – Vocês terminaram por minha causa. – consegui concluir, minha voz quase um sussurro.
- Não! Zac, não! – ele me virou para encará-lo. Meus olhos encontraram os seus, mas desviei o olhar para os meus pés descalços. Ian pôs o indicador sob meu queixo e me fez olhá-lo novamente. – Cara, a gente terminou porque... Sei lá, não dava mais. O beijo foi...
- O beijo foi só a válvula de escape? Um estepe? Uma desculpa?
- Uma coisa que aconteceu porque eu quis e não seria justo esconder isso dela.
- Ian, tu podes até não admitir, mas vocês terminaram por minha causa. Se eu não tivesse te chamado pra conversar naquela noite, talvez aquele beijo nunca tivesse acontecido.
- Zac, eu sinto muito que tu tenhas tomado a culpa do nosso término sobre os teus ombros, mas não é bem assim. Eu só queria que tu soubesses que eu não me arrependo. – nossos rostos estavam bem próximos, cada vez mais próximos. Ah, céus!
 - Mas eu sim. – respondi com um suspiro e virando o rosto. – Ian... Acho que já ta ficando meio tarde e a Marta já deve estar preocupada.
- Mamãe sabe que eu viria pra cá depois da aula. – ele disse e acrescentou, cuspindo cada palavra: - Mas, eu entendi o recado, Zac.
- Ian, eu...
- Não. Tudo bem. Eu sei onde fica a porta.
Ian pegou os sapatos no chão e desceu as escadas sem nem calçá-los antes. É, acho que minha reação ao ouvir ele dizendo que não se arrependia e que queria me beijar deveria ter sido diferente. E seria, se o fato de os dois terem terminado por minha causa não tivesse caído como uma bomba sobre o meu colo!