
Términos e idas sem volta
O ano parecia ir de mal a pior a cada
segundo que passava depois daquele beijo. Aquele intenso e inesperado beijo!
Alice e eu meio que paramos de nos
falar poucos meses antes do meu aniversário e continuamos assim durante mais
ou menos umas 3 semanas. Ela não chegou a me dizer que estava chateada comigo,
mas eu sabia que estava. O grande mistério para mim era saber o porquê.
Quanto a Ian, bem, continuamos
naquela coisa de ida e volta na nossa amizade. Era estranho falar com ele
depois do ocorrido na praça, então eu meio que me sentia aliviado quando
estávamos sem nos falar.
- Zac... – Ian me disse em um dia que
estávamos no meu quarto depois da aula. Estávamos deitados na minha cama,
olhando para o teto cheio de pontinhos fluorescentes, contando as já
contadas estrelas que estavam ali desde os meus 10 anos (sim, eu sei que pode ser infantil, mas eu gosto!) – Alice e eu... Bem –
ele suspirou – a gente terminou.
- Terminaram? Como assim terminaram?
- Terminando, oras! – ele respondeu
rindo.
- Vocês vão voltar – respondi, lhe
dando uma cotovelada. – Como sempre.
- Não. Dessa vez foi definitivo.
- Por que?
- Ah, a gente conversou. – ele
respondeu. – Sabe, já tinha um bom tempo que não vinha dando certo. A gente
brigava por besteira e, quando eu contei sobre o beijo...
- Beijo?! – me sentei na cama com um
impulso. – Q-que beijo?!
- Ora, Zac – ele exclamou. Depois de
uns segundos de silêncio, ele acrescentou num sussurro: - O nosso beijo!
Senti meu rosto corar, o sangue
queimando em minhas bochechas. Então era por isso que Alice havia parado de
falar comigo? Céus!
- Zac, o que foi? – ele se sentou
também e pegou a minha mão.
Levantei e fui até a janela do
quarto. Olhei para o céu, já começava a escurecer. Ian se aproximou de mim e me
tocou o ombro. Céus de novo!
- Então – comecei com a voz tremula.
– Vocês terminaram por minha causa. – consegui concluir, minha voz quase um sussurro.
- Não! Zac, não! – ele me virou para
encará-lo. Meus olhos encontraram os seus, mas desviei o olhar para os meus pés
descalços. Ian pôs o indicador sob meu queixo e me fez olhá-lo novamente. –
Cara, a gente terminou porque... Sei lá, não dava mais. O beijo foi...
- O beijo foi só a válvula de escape?
Um estepe? Uma desculpa?
- Uma coisa que aconteceu porque eu quis e não seria justo esconder isso
dela.
- Ian, tu podes até não admitir, mas
vocês terminaram por minha causa. Se eu não tivesse te chamado pra conversar
naquela noite, talvez aquele beijo nunca tivesse acontecido.
- Zac, eu sinto muito que tu tenhas
tomado a culpa do nosso término sobre os teus ombros, mas não é bem assim. Eu
só queria que tu soubesses que eu não me arrependo. – nossos rostos estavam bem
próximos, cada vez mais próximos. Ah,
céus!
- Mas eu sim. – respondi com um suspiro e
virando o rosto. – Ian... Acho que já ta ficando meio tarde e a Marta já deve
estar preocupada.
- Mamãe sabe que eu viria pra cá
depois da aula. – ele disse e acrescentou, cuspindo cada palavra: - Mas, eu
entendi o recado, Zac.
- Ian, eu...
- Não. Tudo bem. Eu sei onde fica a
porta.
Ian pegou os sapatos no chão e desceu
as escadas sem nem calçá-los antes. É, acho que minha reação ao ouvir ele
dizendo que não se arrependia e que queria
me beijar deveria ter sido diferente. E seria,
se o fato de os dois terem terminado por minha causa não tivesse caído como uma
bomba sobre o meu colo!