Um resumão
Certo, durante aquela semana toda
Alice e Ian foram ficando bem
próximos. Eles estavam se dando cada vez melhor e sempre que tinham uma
oportunidade – e mesmo quando não tinham – acabavam se pegando.
Eles se pegavam antes de entrar na
escola, eles se pegavam na sala, eles se pegavam no intervalo, eles se pegavam
na saída, eles se pegavam no caminho de casa, eles se pegavam na minha casa...
Enfim, eles se pegavam sempre.
Aquilo no começo me incomodava de uma
tal forma que nem sei bem o porquê, mas depois de um mês naquela melação toda,
eu já tinha me acostumado.
Alice me deixou meio de lado e só
resolvia conversar comigo quando ela e Ian brigavam. Com o Ian era a mesma
coisa.
Não tive lá muito tempo pra me
aproximar mais dele, afinal, ele estava com Alice o tempo todo e quando se está
de vela pra um casal que vive se pegando, o espaço pro diálogo é quase nulo.
Não que eu achasse isso ruim. O único tempo que eu tinha pra conversar com um
deles era quando eles brigavam por algum motivo besta.
Alice vinha até minha casa pela parte
da tarde e eu já imaginava o motivo da visita, mas perguntava “a que devo a
honra?” sempre que ela aparecia. Era dizer isso e ela começar a desabafar sobre
a mais recente briga dos dois. Não, ela não notava a ironia em minha voz, ou
fingia não notar.
Ian dificilmente vinha em casa me
ver, mas sempre ligava. Era a mesma coisa, eu perguntava “a que devo a honra?”
e ele começava a falar sobre Alice. Eles brigavam por motivos bestas e eu
fingia que dava atenção ao mesmo tempo em que terminava de ler algum livro novo
que havia pegado na biblioteca da escola.
As brigas aumentaram e pioraram
quando eles começaram a namorar.
Alice costumava implicar com a ex de
Ian que de vez em quando telefonava pra ele enquanto os dois estavam juntos. Eu
também me sentiria muito incomodado no lugar dela, mas não faria caso por isso.
Ian costumava implicar com as implicâncias de Alice. Eu entendia o lado dele,
mas fazer caso por causa de ciúme besta... Bem, dava na mesma.
Todos os domingos de manhã, Ian me
encontrava sentado no canto da rua enquanto ele ia para a igreja e, às vezes,
ele sentava comigo e então podíamos conversar um pouco. Normalmente eu
perguntava se ele não iria se atrasar, mas ele sempre me respondia que não
tinha problema, com aquele sorriso curvando os lábios...
Alice e eu fomos nos distanciando
cada vez mais e, quando me espantei, estávamos sentando em lados opostos da
sala e ela sequer vinha em casa para conversarmos. O máximo de palavras que
trocamos durante os dois meses de namoro dela com Ian era “oi” e “tchau” antes
e depois das aulas.
Eu sentia falta dela, das nossas
conversas e tudo mais, mas sabia muito bem como Alice ficava quando começava a se
envolver com alguém.
No terceiro mês do turbulento namoro
dos dois é que eles resolveram me incluir novamente na relação e Alice lembrou
que éramos melhores amigos. Ela voltou a frequentar minha casa todas as tardes
depois da aula e quase todas as noites saímos os três para fazer alguma coisa.
Ian e eu estávamos bem próximos também. Era
como se tivéssemos voltado à época do acampamento onde fazíamos quase tudo
juntos.
Por incrível que pareça, aquele foi o
melhor dos meses que eles estavam juntos. Eles quase não brigavam porque sempre
que um dos dois começava a fazer caso com alguma coisa, eu interferia puxando a
orelha deles.
Bem, foram meses que passaram
praticamente em branco pra mim até eu me tornar o “anjo da guarda” e vela oficial do namoro
dos dois.