Camping #3

Cineminha

Naquela tarde Alice apareceu lá em casa, por volta das 16:00hs e, como eu já esperava, ela me encheu de perguntas sobre o Ian. Algumas coisas eu sabia responder, outras não. As que eu sabia responder algumas a agradavam, outras não e quando eu não sabia responder ela me socava o braço e dizia “ele é teu amigo. É obrigatório saber responder isso!”

Por exemplo, ela gostou de saber que ele morava na mesma rua que nós, só algumas casas depois da minha; ela não gostou de saber que quando o conheci, Ian tinha namorada; ela me bateu porque eu não soube dizer se ele ainda estava namorando; ela me bateu quando eu não soube dizer há quanto tempo ele tinha se mudado para o nosso finzinho de mundo particular.

Bem, ela falou tanto, mas tanto do Ian naquela tarde que fui meio que compelido a convidá-lo pra sair com a gente à noite.

- Ei, er... Ian? – era a primeira vez que eu ligava para ele. Tínhamos trocado números de celular no acampamento, visto que tínhamos nos dado super bem, mas nunca me passou pela cabeça ligar. – É o Zac. – Zac, eu sei. Oi. – Como assim “eu sei”? – É que você sempre começa alguma frase com ‘ei, er...’. Tá tudo bem? – Hum... é, tá sim. Eu só queria saber se você, não sei, tá afim de ir no cinema comigo e a Alice mais tarde?

Ele topou.

Marcamos às 19:30hs na praça que fica em frente à escola, eu fui o primeiro a chegar. Ian chegou mais ou menos 5 minutos depois de mim, Alice demorou. Muito.

- Ei, er... – Ian começou, rindo da própria piadinha. – Então, achei realmente legal descobrir que somos da mesma sala.

- É, também achei. – respondi.

Não, eu não queria conversar. Por que? Não sei, eu só não queria.

- Sabe, foi bem legal ter te visto ontem também. Quer dizer, eu sabia que meus pais iriam se mudar pro bairro em que você morava mas não sabia que seríamos praticamente vizinhos.

- Pois é, essa vida é muito estranha.

- Pois é. – acho que ele percebeu que eu não queria falar pois foi tudo o que disse até a hora que Alice chegou.

O filme foi legal.

Alice e Ian conversaram bastante enquanto esperávamos o filme começar e bem mais depois que o filme acabou. Eles se deram bem. Eu meio que me afastei da conversa o máximo que pude, afinal, tinha ido ali pra ficar de vela.

- Então, Ian – Alice disse em um determinado momento. – o que mais o Zac falou de mim lá no acampamento em que vocês se conheceram?

- Ele me disse que vocês são amigos desde pequenos, que você tinha, agora, cabelos azuis, que você era muito inteligente, engraçada... – ele sorriu e eu já esperava alguma cantada barata. – Me disse que você era bonita, mas eu não imaginava o quanto!

- Ah, por favor! – falei. – Acho que vou vomitar.

Tomei a coragem que Alice não teve para fazer uma determinada pergunta.

- Então, er... Ian, ainda namorando?

- Não. – ele respondeu. Era óbvio, mas eu quis perguntar mesmo assim. – Não tava dando certo já tinha um tempo e... – ele deu de ombros. - bem, acabou.

Alice deu aquele sorriso imenso e descarado pela segunda e assustadora vez no dia.

- Alice, querida – falei. – Não seja assim tão fácil.

- Zac – ela me olhou como se fosse arrancar a minha cabeça. – Cale essa boca, ok?

- Ok. – respondi rindo.

No fim daquela noite Ian e Alice se beijaram na frente da minha casa. Foi muito legal da parte deles fazer isso (registro de ironia, confere).

- Vocês dois tiveram a noite inteira pra fazer isso – observei. – Por que resolveram se beijar justamente na afrente de casa, na hora que vieram me deixar?

- Não fica com ciúmes, Zac – Alice, retrucou. – Sabes que te amo?

- É, Zac – falou Ian. – Se você não tivesse me cortado a noite toda, quem sabe quem eu ia estar beijando agora?

- Ha-ha-ha. Hilário. Acabem logo com isso, eu quero me despedir e entrar.

Ian subiu alguns degraus da escada em que eu estava sentado e me deu um beijo no rosto.

- Boa noite, Zac. – ele disse rindo. Eu começava a achar que ele era um idiota e não o carinha legal que tinha conhecido um tempinho atrás...

- Veja só quem anda bem soltinho – falei, sacudindo a cabeça. O puxei pela mão antes que descesse as escadas, me levantando e o abracei. – Boa noite, Ian e... As cortadas não foram intencionais, ok? Desculpa.

Acho que o peguei de guarda baixa com aquele abraço porque todo seu corpo ficou tenso antes de relaxar e retribuir.

- T-tu-tudo bem. – ele gaguejou em resposta.

Me despedi de Alice também e, enfim, fui dormir. Infelizmente uma coisa não me saiu da cabeça: aquele cheiro...