27x21


Houve uma época em que alguém telefonava minutos antes da meia-noite só porque queria ter a certeza de que seria o primeiro “feliz aniversário” que seria ouvido naquele longo dia.
Houve uma época em que as tardes eram cheias de luz e vida, paz e tranquilidade, conforto e carinho. As noites eram estreladas, cheias de doces, salgados e amigos ao redor. Alguns amigos ainda permanecem.
Houve uma época em que esse dia de fato era especial, porém, com o passar do tempo, essa especialidade toda acabou se perdendo e, três anos depois, eu já não ouço mais o celular tocando com teu número na tela, não preciso atender afoito e controlando a voz pra que você não percebesse minha euforia.
Agora, mesmo depois de tanto tempo longe, confesso que espero por essa ligação. Confesso que no lugar de tudo que já foi especial, restou um maldito vazio que é preenchido a cada dia do ano com uma saudade sufocante e uma nostalgia tóxica que só fazem crescer, crescer, crescer e que acabam transbordando ao final de todo dia 27.
Houve uma época em que cheguei a achar que esse era um dia especial, porém, quando tudo ao redor se tornou tão cinza e meu céu tão nublado... Há momentos em que pequenas gotas de azul escorrem aqui ou ali, mas a felicidade efêmera desses momentos raros não me é suficiente pra colorir esse quadro todo.
A verdade é que quando você partiu, levou consigo não só as ligações antes da meia-noite; não só os milhões de “eu te amo” em uma mesma frase; não só as tardes alegres com brigadeiros de panela e não só os 27 mais alegres, mas levou também toda a cor e magia que um dia trouxe ao meu mundo tão monocromático.

Hoje aquela saudade toda se derramou, como em todos os anos quando deitei na cama e lembrei da tua voz me dizendo “feliz aniversário, meu principezinho!”