Surpresa!
Na manhã daquela segunda-feira eu até
que poderia ter acordado um pouquinho mais tarde pra ir para a escola, porém
aquela velha rotina de acordar às 4 horas da manhã havia se tornado
estranhamente confortável para mim.
Entretanto hoje seria um pouquinho diferente,
afinal, seria o primeiro dia de aula e eu até que estava animado pra isso.
Totalmente desperto, preparei meu
café antes que todos da casa acordassem e... Bem, não irei narrar esse ponto do
meu dia porque... ah, só não quero.
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Eu estava lendo o exemplar de O
Grande Gatsby que havia pegado na biblioteca antes do início das férias e ainda
não pudera ter devolvido e nem terminado de ler por motivos de preguiça. Não
que o livro não fosse bom, porque era e muito, mas eu simplesmente não tive
cabeça pra terminar de ler o último capítulo.
Voltando, eu estava lendo quando
escutei alguém chamar meu nome. Era a Alice, minha melhor amiga desde sempre.
Alice é uma das pessoas mais loucas e
incríveis que já conheci. Ela tem a minha idade, uma pele levemente corada, uma
personalidade quase completamente diferente da minha e longos cabelos azuis.
Seus cabelos naturalmente são louros, mas ela não gosta muito e, por isso,
pinta de diferentes cores frequentemente. O azul não lhe caía bem e eu já havia
dito isso para ela.
- Ei, er... – bem, eu nunca fui um
especialista em começar diálogos. Por isso era frequente começar qualquer
conversa com um “ei, er...” completamente sem jeito. – Bom dia, eu acho.
- E aí – Alice bagunçou meus cabelos
enquanto perguntava: - Como é que vai meu pseudoruivinho? Quando é que a gente
vai trocar a cor desses cabelos? E as férias? Viajou pra algum lugar legal?
Conheceu gente nova? Uma namoradinha?... – foi uma enxurrada de perguntas sem
pausa e eu me perguntava como é que ela conseguia perguntar tantas coisas em um
período de tempo tão curto e sem parar pra respirar.
- Primeiro: calma. – comecei a falar,
concertando a zona de guerra que ela tinha feito na minha cabeça. – Segundo: eu
to legal; terceiro: quando é que você
vai trocar esse azul horrível? E quarto... Esqueci o resto das perguntas.
Ela sentou na minha frente empolgada
e jogando sua bolsa bem longe e suspirou.
- Impressão minha ou essas férias
passaram muito rápido?
- Impressão. – respondi. – Com toda a
certeza, impressão.
- Já vi que alguém não se divertiu
nada nessas férias.
- Nem... até que foi legal. É que eu
só tava cansado de acordar cedo e não ter nada pra fazer depois. Mas e as tuas
férias? – perguntei rapidamente. – Como foi lá na fazenda?
Ela suspirou de novo e se deitou no
meu colo. Tive que guardar o livro na mochila.
- Foi um tédio só. – ela me
respondeu. – Mas foi legal.
- Hã?! “Tédio” e “legal” não combinam
na mesma frase.
- É que eu descobri que meu primo tem
um amigo que é muito gato e... – ela fez uma cara que, pelos céus! – Ele beija muito bem!
Eu ri.
- Cara, prestar que é bom, nada né?
- Não. – ela respondeu tentando
assumir uma expressão séria. – Mas e o acampamento com teus pais, como foi?
- Legal. Apesar dos mosquitos, mato e
todo o mais.
- Conheceu alguém lá? Tinha alguma
menininha bonita? Como ela era? Com...
- Alice! – interrompi a nova torrente
de perguntas que estava prestes a se derramar sobre mim. – Não, não tinha
nenhuma menininha bonita. Quer dizer, até tinha, mas não conheci nenhuma. Só...
– me interrompi.
- Só...? – ela perguntou.
- Só conheci um garoto lá. Ian, se eu
não me engano.
O assunto do acampamento morreu e nós
dois conversamos bastante antes de a aula começar e termos que entrar no prédio
sufocante da escola. O pessoal todo foi chegando e eu fui me sentindo cada vez
mais sufocado por todas as perguntas de todos. Eu sempre detestei responder
perguntas.
Fui ficando cada vez mais distraído
conforme o dia foi passando e não foi nenhuma surpresa quando vi que as aulas
haviam terminado por hoje. Surpresa foi o que, ou melhor “quem”, vi sentado
quatro carteiras à frente da minha arrumando as coisas para sair da sala.
- Zac. – era Alice me chamando, acho
que fiquei com cara de bobo ou coisa assim porque ela estava se esforçando pra
esconder um sorriso. – Tá tudo bem?
- Er... oi?
- Vamos? – ela perguntou, soltando um
riso rápido.
- Certo.
- O que foi?
- Nada, é que... Nada.
Alice e eu já estávamos saindo da
sala quando o “nada” me aconteceu. A pessoa que vi sentado quatro carteiras à
frente da minha era o Ian, o garoto do acampamento que, diga-se de passagem,
Alice quis saber muito sobre e se eu tinha falado sobre ela em alguma de nossas
“conversas nerds, sobre coisas nerds”.
- Zac? – ele chamou.
E lá estava ele. All stars maneiros,
jeans surrado, a camisa do uniforme, óculos de armação legal sobre um par de
olhos castanhos com olheiras e o cabelo negro bagunçado.
- Ei, er... – eu tinha que parar de
começar uma conversa com esse estúpido “ei, er...”. – Ian...?
Alice virou pra mim com uma cara que
dizia mais ou menos “não! Esse cara é o Ian?” e “Wow! Ele é, tipo, muito gato!”
e também “Acho bom você ter falado de mim pra ele ou eu te mato!”
- Que coisa, quem diria que seríamos
da mesma sala não é? – ele tinha se aproximado de nós dois em menos de um
passo, acho. Estendeu a mão para mim, sorrindo. – Queria ter parado pra falar
contigo ontem, mas eu tava meio atrasado pra chegar na igreja. Nisso que dá
acordar tarde. – a propósito, eu apertei a mão dele. – Enfim, que coincidência,
não mesmo?
- Er... Super! Então – acrescentei
depois de alguns segundos de silêncio constrangedor. – Essa aqui é a Alice,
lembra que eu te falei sobre ela no acampamento?
O sorriso dele cresceu. E o da Alice?
Bem, só digamos que ela parecia o gato do País das Maravilhas.
- Claro que lembro – ele respondeu. –
Como esquecer a famosa Alice?
- Famosa? – ela perguntou, colocando
uma das mãos sobre o peito, claramente lisonjeada. – Nem tanto.
- Sim, famosa. – Ian insistiu. – Zac
falava muito sobre você lá no acampamento. Mas ele disse que seu cabelo tinha
uma cor horrível e... bem, eu particularmente achei muito bonito. Azul é minha
cor favorita.
- Mesmo? Obrigada. – ela soltou um
risinho meloso e jogou os cabelos para um lado. Ela estava definitivamente
flertando com o cara. – É a cor favorita do Zac também, pintei por causa dele.
- Ele me contou isso também.
- Certo, gente. – me intrometi na
conversa. - Sem querer bancar o chato ou
o bombeiro, mas tá ficando tarde e eu
não quero ficar mais um minuto sequer aqui nessa sala. Com sua licença. – disse
me virando para Alice e lhe fazendo uma mesura. Depois me virei para Ian e
acrescentei: - Fico feliz por sermos da mesma sala. Até mais os dois.
Fui saindo.
- Chato. – Alice falou, me puxando
pelo braço. – Espera que eu vou contigo. Bom – ela falou para Ian. – Te vejo
amanhã.
E saímos da sala, deixando Ian para trás. Ele
poderia ter vindo com a gente, mas por algum motivo não veio. Desconfio que
tenha sido pela ausência de um convite vindo da minha parte.
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